A hipertensão arterial continua sendo a principal causa de mortalidade cardiovascular no Brasil e no mundo. Em 2025, foi publicada a Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial (DBHA 2025), fruto de sociedades médicas como a de Cardiologia, Nefrologia e Hipertensão. O documento traz recomendações baseadas em evidências e inclui pela primeira vez um capítulo específico para o Sistema Único de Saúde (SUS), relevante porque a maioria dos pacientes hipertensos é acompanhada na atenção primária.
O que muda: 12×8 agora é pré-hipertensão
A principal novidade da diretriz é a reclassificação de valores a partir de 120/80 mmHg. Essa faixa, antes considerada normal, agora é definida como pré-hipertensão. O objetivo é identificar indivíduos em risco desde cedo e estimular intervenções de estilo de vida mais rigorosas.
Classificação da pressão arterial em adultos
Classificação | Sistólica (mmHg) | Diastólica (mmHg) |
---|---|---|
Normal | < 120 | < 80 |
Pré-hipertensão | 120–139 | 80–89 |
Hipertensão Estágio 1 | 140–159 | 90–99 |
Hipertensão Estágio 2 | 160–179 | 100–109 |
Hipertensão Estágio 3 | ≥ 180 | ≥ 110 |
Como medir corretamente a pressão
A diretriz reforça que o diagnóstico só é confiável se a aferição for feita com técnica adequada: paciente sentado por 5 minutos, sem falar, pés e costas apoiados, sem cafeína ou cigarro nas últimas 30 minutos. A recomendação é usar equipamentos automáticos de braço e calcular a média das duas últimas de três medidas.
Ferramentas adicionais
- MAPA (Monitorização Ambulatorial 24h)
- MRPA (Monitorização Residencial da Pressão Arterial)
Esses métodos são essenciais para identificar hipertensão do avental branco e hipertensão mascarada.
Diagnóstico e confirmação
- Hipertensão é diagnosticada quando a pressão de consultório é ≥140/90 mmHg em duas ocasiões diferentes.
- Em casos de lesão de órgão-alvo ou doença cardiovascular, o diagnóstico pode ser feito sem repetição de medidas.
- O uso de MAPA e MRPA é recomendado sempre que disponível.
Estratificação de risco cardiovascular
A diretriz orienta avaliar fatores de risco, presença de lesão de órgãos-alvo e calcular o escore PREVENT. Esse processo ajuda a definir se um paciente em pré-hipertensão deve apenas ajustar o estilo de vida ou iniciar tratamento medicamentoso.
Medidas não medicamentosas
As intervenções de estilo de vida são universais para todos os pacientes com pressão ≥120/80 mmHg:
- Dieta DASH com redução de sódio e aumento de potássio
- Prática regular de atividade física
- Controle do peso (IMC entre 18–24 kg/m²)
- Limitação do consumo de álcool
- Cessação do tabagismo
- Controle do estresse e sono adequado
Essas medidas devem ser recomendadas ainda na fase de pré-hipertensão.
Quando iniciar tratamento medicamentoso
Indicações principais
- PA ≥140/90 mmHg: iniciar medicamentos imediatamente.
- PA entre 130–139/80–89 mmHg: considerar medicamentos após 3 meses de medidas não medicamentosas se o risco cardiovascular for alto.
- Idosos frágeis e maiores de 80 anos: preferir monoterapia e titulação gradual.
Classes de medicamentos
- Inibidores da ECA (IECA)
- Bloqueadores do receptor de angiotensina II (BRA)
- Bloqueadores de canais de cálcio (BCC)
- Diuréticos tiazídicos
- Betabloqueadores (indicações específicas, como DAC ou IC)
A associação inicial de dois fármacos em doses baixas, preferencialmente em comprimido único, é a estratégia de escolha para a maioria dos pacientes.
Metas de tratamento
A meta geral para a maioria dos pacientes é manter a pressão arterial abaixo de 130/80 mmHg.
O seguimento deve ser realizado a cada 4 semanas até atingir o controle, com ajuste terapêutico sempre que necessário.
Diretriz aplicada ao SUS
A DBHA 2025 dedica recomendações específicas para a rede pública de saúde:
- Protocolo padronizado de aferição
- Busca ativa de hipertensos
- Uso da RENAME (Relação Nacional de Medicamentos Essenciais) quando não houver acesso a comprimidos únicos
- Critérios de encaminhamento para atenção especializada
Essa abordagem busca tornar viável a aplicação prática das diretrizes no cenário real da atenção primária brasileira.
Impactos práticos
Para os pacientes
Mais pessoas serão classificadas como em risco e terão de iniciar mudanças de estilo de vida ou até mesmo tratamento.
Para os médicos
Haverá maior necessidade de reforçar orientações de prevenção já na fase de pré-hipertensão e ajustar estratégias de controle rigoroso.
Para a saúde pública
A mudança pode ampliar a pressão sobre o sistema, mas também reduzir complicações graves a longo prazo, como AVC e infarto.
A nova Diretriz Brasileira de Hipertensão 2025 redefine 12×8 como pré-hipertensão e reforça o papel do diagnóstico precoce e da prevenção. Para médicos, estudantes e candidatos à residência médica, conhecer essas atualizações é essencial para a prática clínica e para os exames. A meta de tratamento mais agressiva (<130/80 mmHg) e a valorização do estilo de vida representam uma estratégia mais proativa, alinhada com evidências globais.