A Câmara dos Deputados aprovou, no dia 16 de julho, o regime de urgência para o Projeto de Lei 785/2024, que institui o Exame Nacional de Proficiência em Medicina (ENPM). Com isso, a proposta pode ser votada diretamente no plenário, acelerando sua tramitação e colocando em pauta uma das mudanças mais significativas na formação médica dos últimos anos.
A aprovação da urgência teve apoio de 90% dos parlamentares presentes, sinalizando que a proposta tem ampla aceitação política — apesar de ainda gerar debates acalorados entre profissionais, estudantes e instituições de ensino.
O que é o ENPM?
O ENPM é uma proposta de exame obrigatório para médicos recém-formados que desejam obter o registro profissional junto aos Conselhos Regionais de Medicina (CRMs). Ou seja, mesmo após concluir a graduação, o médico só poderá atuar legalmente no Brasil se for aprovado nessa avaliação nacional.
A ideia é que o exame seja elaborado por uma instituição federal de ensino superior, escolhida pelo Ministério da Educação (MEC). A prova deverá avaliar os conhecimentos teóricos e práticos adquiridos ao longo da graduação, com base nas Diretrizes Curriculares Nacionais do curso de Medicina.
A proposta prevê que o exame seja periódico, podendo ser dividido em etapas ao longo da formação. Para ser aprovado, o estudante precisará atingir, no mínimo, 60% de acertos. Quem ingressar no curso antes da publicação da lei não será obrigado a fazer a prova.
Por que o ENPM está sendo chamado de “OAB da Medicina”?
O apelido surgiu pela similaridade com o exame aplicado a bacharéis em Direito, exigido para que possam se inscrever na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e exercer a advocacia.
A lógica é a mesma: criar uma avaliação nacional que assegure a qualidade mínima necessária para o exercício da profissão. No caso da Medicina, o objetivo é garantir que todo médico recém-formado tenha condições técnicas e científicas para oferecer um atendimento seguro à população.
Quais são os argumentos a favor?
Quem defende o projeto destaca a falta de uniformidade na qualidade dos cursos de Medicina no Brasil. O país conta atualmente com mais de 380 faculdades de Medicina, muitas delas abertas nos últimos anos sem estrutura adequada.
Assim, os principais argumentos a favor do ENPM incluem:
- Padronização do nível de conhecimento dos formandos;
- Segurança do paciente, ao garantir que apenas profissionais capacitados atuem;
- Responsabilidade social, ao proteger a saúde pública;
- Controle da formação médica, em um cenário de expansão desordenada de cursos.
Muitos parlamentares também destacam que outros países já adotam exames semelhantes — como Estados Unidos, Canadá e Reino Unido — como parte do processo de licenciamento médico.
E quais são os argumentos contra?
Apesar do apoio expressivo na Câmara, a proposta enfrenta resistência de entidades estudantis e parte da comunidade médica. Os principais argumentos contrários incluem:
- Aumento da pressão psicológica sobre os estudantes;
- Desigualdade de condições, especialmente para alunos de baixa renda ou que estudam em instituições públicas;
- Precarização do ensino: em vez de responsabilizar cursos mal avaliados, transfere-se o ônus para o aluno;
- Barreira de entrada no mercado de trabalho, que pode afetar especialmente regiões mais carentes de profissionais.
Além disso, há quem questione se o exame realmente resolverá os problemas estruturais do ensino médico ou apenas mascarará falhas mais profundas.
O que acontece agora?
Com a urgência aprovada, o PL 785/2024 pode ser votado a qualquer momento no plenário da Câmara dos Deputados. Se aprovado, segue para o Senado Federal. Se também for aprovado lá, vai à sanção presidencial.
A regulamentação da aplicação do ENPM caberá ao Conselho Federal de Medicina (CFM), em conjunto com o MEC. A avaliação será obrigatória em todo o país.
Como isso afeta quem estuda para o Revalida?
Embora o ENPM seja voltado para estudantes que concluíram o curso de Medicina no Brasil, a discussão traz reflexões importantes para todos os que pretendem atuar como médicos no país — incluindo os candidatos ao Revalida.
A principal semelhança entre os exames está na exigência de comprovação de competências e conhecimentos clínicos mínimos. Ou seja, quem estuda para o Revalida pode encarar o ENPM como um reflexo da tendência de rigor e qualificação crescente na medicina brasileira.
Considerações finais
A proposta do ENPM ainda está em discussão, mas já provoca impactos e levanta debates importantes. Para os futuros médicos, o recado é claro: a exigência por formação sólida e atualizada será cada vez maior.
Independentemente do caminho — Revalida, residência ou ENPM — o estudo estratégico, focado em habilidades práticas e raciocínio clínico, seguirá sendo o diferencial.